2- Objetivos


O seminário que propomos tem ênfase na obra do historiador e professor Carlos Moore. Seu livro "A África que incomoda", foi lançado em 2008 e já se encontra na terceira edição. Pensando sobre o provocante título, o professor Kabengele Munanga (que também estará presente neste seminário como palestrante), pergunta: a quem a África incomodaria? e responde: ao mundo ocidental que, no passado remoto, atravessou os mares, invadiu as sociedades africanas, pilhou sistematicamente seus cérebros humanos, a mão de obra jovem e abundante através de tráfico atrelado à escravidão e que depois se instalou no continente para uma segunda fase de escravidão in loco denominada colonização? Vista assim, afirma Munanga, a África não incomodou ninguém e, ao contrário, se constituiu em excelente negócio que trouxe enormes lucros. O continente passa a incomodar quando começa a lutar pela independência política, econômica e cultural do jugo colonial. "Daí o neocolonialismo para evitar a ruptura e manter o status quo que se perpetua ainda hoje através dos mecanismos de cooperação internacional e de novas relações de exploração econômica, altamente sofisticadas". Munanga também está certo ao enfatizar que a obra de Carlos Moore problematiza a história de África que nos foi subtraída numa abordagem e linguagem acessíveis aos que não têm proximidade com o tema. Uma das grandes proezas desse livro específico de Moore (A África que incomoda) é que este historiador, sociólogo, cientista político e etnólogo nos apresenta uma visão interdisciplinar e holística que não esfacela a África, apesar da diversidade dos temas tratados.

Aos pontos positivos destacados por Munanga acrescentamos ainda que Carlos Moore, em toda sua obra e, não apenas em "A África que incomoda", nos revela uma visão não massificada e massificante do continente africano. É o que podemos dizer de "Racismo e Sociedade" (2007), "O Marxismo e a questão Racial" (2010) e de "Fela! essa vida puta!" (2011). A respeito desse último, não podemos deixar de destacar a originalidade do livro, já que Moore faz uma autobiografia do amigo e músico extraordinário Fela Anikulapo-Kuti, criador do Afrobeat, nos anos 1970. Ressaltamos que em nosso seminário, "Fela Anikulapo-Kuti" será presença marcante com sua música, com seus sonhos.
O Brasil é numericamente considerado o maior país de todas as diásporas africanas no mundo e, neste momento, discute justamente essas suas raízes no contexto das políticas afirmativas. Ao mesmo tempo, torna-se cada vez mais evidente o profundo desconhecimento sobre o Continente Africano, principalmente a respeito dos séculos que antecederam a colonização do Brasil e os mais de 300 anos de escravidão negra. A educação ocupa papel central nesse cenário complexo. Com este seminário acreditamos que a UERJ e sua Faculdade de Educação podem contribuir muito, dando mais um passo para  diminuir a lacuna evidente na formação não só de seus professores, mas também de professores e professoras de outras instituições. Mais importante ainda: temos a esperança de poder discutir coletivamente com os movimentos sociais, poetas, escritores, ativistas, militantes e somarmos todos e todas para por fim ao racismo no nosso país.